domingo, 27 de julho de 2014

COMO PENSA O HOMEM DA RUA - Por HUMBERTO PINHO DA SILVA



  
Na pequena estante de meu quarto de solteiro, havia pouco mais de trinta volumes. Quase todos de Camilo, alguns de Fulton Sheen e Mário Gonçalves Viana, e meia dúzia de Marden.

Nos livros de Marden moldei o carácter, e arquitetei a pouca cultura que adquiri ao longo dos anos, e com Mário G. Viana aprendi a pensar e a formar opinião.

Entre as obras da juventude, a que mais me impressionou, foi “ A Arte de Estudar “ de M. G. Viana. Havia nela curioso diálogo, travado entre professor e aluno do Colégio da Trindade, de Oxford, que obtivera diploma.

“ O estudante acabava de concluir o curso e resolveu ir despedir-se do diretor:

- Senhor diretor: como acabei a minha educação, vou-me embora amanhã.

Ouvindo isto, o austero mestre exclamou, entre surpreendido e irónico:

- Como pode ser isso? Acabaste de dizer, se não estou em erro, que concluíste a tua educação? Pois, meu rapaz, fica sabendo que eu ainda só agora sei que verdadeiramente comecei a saber alguma coisa!”

Na escola, aprende-se o básico, os alicerces, onde assenta a estrutura da nossa cultura. Nada mais.

Saber: aprende-se com a experiência e constante estudo.

Sei bem que se dá mais valor ao “ canudo “, passado pela Universidade, que ao conhecimento adquirido por autodidatismo. É engano, em que muitos costumam cair.

Cesário Verde – a exemplo de outros ilustres intelectuais, conhecedores da ignorância das massas, – matriculou-se na Faculdade de Letras, para obter respeito no mundo da Literatura!…

Erasmo (cito “ Erasme”, por Léon-E. Halkin) também sabia que para se ter mérito reconhecido, é preciso ser doutor e ir ao estrangeiro.

Diz Erasmo: “ Duas coisas, sinto-o, se me tornam verdadeiramente necessárias: em primeiro lugar ir a Itália para dar à minha cienciazinha autoridade desta ilustre estadia; depois obter o grau de doutor. Ambas as coisas são igualmente absurdas: ninguém muda de espírito por atravessar o oceano, como diz Horácio, e não regressarei com mais sabedoria, nem como um cabelo. Mas os tempos são assim; ninguém, mesmo as pessoas mais sensatas, acredita no vosso mérito se não vos poder chamar Mestre.”

Os nossos Mestres da pintura, escultura e música, não o são só por serem geniais, mas porque foram a Paris, e frequentaram o meio artístico da Cidade da Luz.

Do mesmo jeito, como hoje se vai obter o mestrado ou doutoramento, aos Estados Unidos, e a famosas Universidades Europeias.

Dentista de meu pai, tinha no consultório, encaixilhado a prata, certificado de estágio de cinco horas, em São Paulo! …

                  Era para impressionar… O povo, que não sabe avaliar pela própria cabeça, mede o saber, pelos – diplomas, prémios ou pareceres de críticos e comentaristas.

Olvida, que na maioria das vezes, as opiniões são dadas por amizade ou por serem correligionários – no partido politico, ou associação secreta….ou quase.

Se lhe dizem que a obra é boa, que é best-seller, adquirem-na, para oferecerem, afirmando, a pés juntos, que é excecional….e muitas vezes nunca a leram…

Nada há mais influenciável que a opinião pública – basta repetir, afirmar, elogiar na mass-media, para ser vendido e estar na moda.

A competência, o mérito, seja de quem for, só é reconhecido pelo diploma, prémios recebidos ou testemunho de personalidades influentes.

Por isso há tanta gente culta, sem diploma, que passa por ignorante, e tantos diplomados, considerados sapientes, e que nada sabem… mas são escutados atentamente, graças ao certificado que penduraram no escritório.



HUMBERTO PINHO DA SILVA   -    Porto, Portugal

  
publicado por solpaz às 11:04

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Viagem - uma das melhores composições poéticas feitas por um adolescente

Colaboração de Luiz Carlos Nogueira




Uma das mais belas composições poéticas que eu já vi, feita por Paulo César Francisco Pinheiro, letrista, nascido no Rio de Janeiro/RJ em 28 de abril de 1949.

Quando fez seus primeiros versos, morava em Angra dos Reis/RJ, onde conheceu João de Aquino, com o qual fez parceria nas primeiras musicas. Com ele, compôs Viagem, em 1964, quando tinha apenas 15 anos de idade, ou seja, quando ainda era um adolescente.

É muito bem Interpretada pela cantora Marisa Gata Mansa. Apreciem a profundidade do pensamento criativo do autor.






Viagem

Oh tristeza, me desculpe
Estou de malas prontas
Hoje a poesia veio ao meu encontro
Já raiou o dia, vamos viajar
Vamos indo de carona
Na garupa leve do vento macio
Que vem caminhando
Desde muito longe, lá do fi do mar
Vamos visitar a estrela da manhã raiada
Que pensei perdida pela madrugada
Mas que vai escondida
Querendo brincar
Senta nesta nuvem clara
Minha poesia, anda, se prepara
Traz uma cantiga
Vamos espalhando música no ar


Olha quantas aves brancas
Minha poesia, dançam nossa valsa
Pelo céu que um dia
Fez todo bordado de raios de sol
Oh poesia, me ajude
Vou colher avencas, lírios, rosas dálias
Pelos campos verdes
Que você batiza de jardins-do-céu
Mas pode ficar tranqüila, minha poesia
Pois nós voltaremos numa estrela-guia
Num clarão de lua quando serenar
Ou talvez até, quem sabe
Nós só voltaremos no cavalo baio
O alazão da noite
Cujo o nome é raio, raio de luar