quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

ENRIQUECEU A CRUZAR PALAVRAS - POR HUMBERTO PINHO DA SILVA


Victor Orville vivia em Oxford, em companhia da esposa. Frequentava a melhor sociedade, e divertia-se em elegantes eventos.

Certa ocasião, o casal, fora convidado a comparecer em importante festa. Victor, animou-se e bebeu mais do que devia.


Muitos, inclusive a mulher, recomendaram-no a não dirigir; eufórico, como estava, não escuta os sensatos conselhos, e indiferente a rogos, mete-se na viatura, e arranca, escarnecendo das recomendações.


Mal havia percorrido breves metros, sofre gravíssimo acidente, e a esposa, com profundos ferimentos, não consegue sobreviver.


Arguido de haver causado a morte da companheira, é condenado a cinco anos de reclusão.


Levado à cadeia, sentiu-se envergonhado e assaltado de tormentosos remorsos. Cai numa atroz angustia, e aparta-se de tudo e todos, inclusive de mais íntimos amigos.


Só, metido entre paredes, roído de remorsos, pede transferência para a África do Sul, cônscio, que longe de Oxford, a pena lhe seria mais suave.


Recolheu à cela 732. Decorrido dias, contesta que a tristeza, o desânimo, que tanto o afligia na sua Inglaterra, tinham embarcado com ele para o continente africano.


Lembrou-se, então, de solicitar papel, lápis e um dicionário; e como era disciplinado e muito respeitador, foi-lhe atendido o pedido.


Perante o espanto de todos, passava horas e horas, dias e dias, a inscrever palavras em quadradinhos que desenhava.


Pensaram que lhe havia areado o espírito, rondando a loucura, e recorreram ao auxilia de médico.


O clínico, após breve conversa, verifica que o preso estava em perfeito juízo, e acabara de descobrir interessante e cultural passatempo: as palavras cruzadas.

Até que, a três dias da véspera do Natal de 1913, Orville, recebeu a agradável alegria de ver, no “ New York Sunday”, as primeiras palavras cruzadas.


Decorrido meses, eram dezenas os jornais que lhe pediam para incluírem, nas suas páginas, o cultural passatempo.


Terminada a pena, ao despedir-se do director da penitenciária, recebeu a bonita quantia de dois milhões de libras! Uma pequena fortuna!


Orville enriquecera na prisão!


Resolveu fixar-se na África do Sul, e contrata indígena, como empregada.


Ao falecer, doou a volumosa fortuna à dedicada nativa, que dele cuidou, carinhosamente, até à morte.


Grata, pela inesperada generosidade, e como prova de gratidão, colocou sobre a campa de Orville, uma lápide com o desenho de umas palavras cruzadas.

Fonte:

Blogue luso-brasileiro: "PAZ": "PAZ"
http://solpaz.blogs.sapo.pt/

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