quinta-feira, 18 de outubro de 2012

ONDE NASCEU O ESCRITOR EÇA DE QUEIROZ ? - Por Humberto Pinho da Silva




                                             






- É poveiro!

Dizem com orgulho os da Póvoa.

                 - Não senhor: é vila-condense!
Contestam os de Vila do Conde.

      Mas, os aveirenses asseveram:
                - Ambos estão equivocados: nasceu em Aveiro!

 - Como pode ser isso?! - Interroga o leitor, - e mais pasmado ficará se lhe disser que nem Eça de Queiroz, sabia!

Eu sou apenas um pobre homem da Póvoa do Varzim” - declara Eça em carta a Pinheiro Chagas, datada de 14/12/1880; e confirma ao matricular-se na Universidade de Coimbra; mas a certidão de casamento e os documentos que apresentou para candidatar-se à carreira diplomática, declaram ser natural de Villa do Conde.

Mas mais baralhado se fica ao conferir a certidão de óbito, escrita em francês, que declara: “né à Aveiro”; afirmação que também fez na carta que escreveu a Oliveira Martins, no ano de 1884: “Filho de Aveiro, educado na Costa Nova, quase peixe da ria…”

Então, onde realmente nasceu Eça de Queiroz?

Tudo começa em Viana do Castelo. O Dr. José Maria d’Almeida Teixeira de Queiroz, representante do procurador régio da Vila de Ponte do Lima, manteve íntima relação com a órfã, Carolina Augusta Pereira d’Eça, de 19 anos, que residia em Viana do Castelo com a mãe, viúva do tenente-coronel José António Pereira d’Eça. Desses amores nasceu o romancista.

Para ocultarem a maternidade assentaram levar a menina para a residência da irmã, D. Augusta Emília Amélia Pereira d'Eça, casada com Francisco Augusto Pereira Soromenho, que morava na Praça do Almada, na Póvoa do Varzim, onde, por certo, a 25 de Novembro de 1845, nasceu Eça.

No sexto dia, após o nascimento, a ama levou-o à Igreja Matriz de Vila do Conde, para ser batizado pelo Padre Pedro António da Silva Coelho. O assento, da cerimónia, foi escrito pelo Prior Domingos da Soledade Sillos.

A estranha certidão declara que é filho de José Maria d’Almeida Teixeira de Queiroz e de mãe incógnita. E acrescenta, que o pai não esteve presente.

    Tem o documento, carta anexa, endereçada à mãe e escrita pelo 


pai da criança, que diz: Por recomendação do avô paterno a criação do menino fica a seu cargo e promete, oportunamente, matrimoniar-se com a mãe do bebé.

 Terminada a cerimónia, Ana Joaquina Leal de Barros, ama do menino, levou-o para sua casa e com ele viveu, em Vila do Conde, durante quatro anos.

Entretanto, a 3 de Setembro de 1849, o pai,agora advogado em Viana do Castelo, casa, na Igreja do Convento Santo António, com D. Carolina Augusta, mãe de Eça; sete meses passados (7 de Abril), o avó paterno, do futuro escritor,  morre em Aveiro, na casa de Verdemilho.

Pouco depois, a ama de Eça, falecia, e o menino é entregue ao cuidado da avó paterna, a Sr.ª D. Teodora Joaquina d’Almeida.

Gondim da Fonseca em “A Tragédia de Eça de Queiroz”, revela que José Maria foi visto, ainda bebé, em Verdemilho, e não é de admirar, visto os avós paternos ai terem residido.

Como falecesse em 1855, a avó, os pais de Eça, resolveram matriculá-lo no Colégio da Lapa, no Porto, cujo director era o pai  

do escritor Ramalho Ortigão, ficando então, a residir na Rua de Cedofeita com D. Carlota Pereira d’Eça, irmã da mãe.

Se o nascimento, por razões óbvias, havia sido escondido, não se compreende o motivo por que não veio, agora, residir com os pais, já que eram casados, e do enlace já haviam nascido três filhos, irmãos de Eça.

O pai vivia no Porto, era respeitado Juiz do 2º Distrito dessa cidade. Nada impedia de o considerar filho legítimo do casal, ou pelo menos deixá-lo passar os fins-de-semana em sua casa.

Verdade é que a mãe a Senhora D. Carolina Augusta, estranhamente, não mostrava interesse em legalizar a situação. Se aceitou casar foi devido à forte insistência da mãe.

Mas, uma vez realizado o matrimónio, e mãe de três filhos, o que a impedia de o legalizar?!

Só após o filho a forçar, quando se matrimoniou com a filha da Condessa de Resende, a 10 de Fevereiro de 1886, é que o fez, a 25 de Dezembro de 1885.

Eça escusava-se a entregar a certidão de batismo a sua noiva. para preparar a documentação necessária.  Em carta endereçada ao noivo, D. Emília, escreve: “A mamã recomenda-lhe que traga a certidão de Baptismo e de solteiro, e não só a mamã lho recomenda, mas também eu, e o Gago e o Cónego Guimarães,  

porque sem isso não podemos casar.”

O enlace, que teve o consentimento da família da noiva, foi realizado quase em segredo. Presentes o padrinho, Ramalho Ortigão, a Condessa do Covo, a mãe e o irmão da noiva.

 E os pais do noivo?!

Não apareceram. Dizem que o pai estava doente. Mas é  de estranhar que os proclamas só corressem em seis freguesias portuenses.

Os pais de Eça estavam casados, o filho era escritor famoso, embaixador de Portugal, portanto não desluzia o brasão da ilustre família da noiva, nem o dos progenitores.

É também de realçar, que, quando o editor o informou que pretendia publicar a biografia, Eça ficou perturbado e apressou-se a escrever a
Ramalho.

Em carta, datada de Newcastle, declara que receia quevenham a investigar o nascimento, e pede ao amigo para que faça essa biografia , recomendando: “biografia sem elogio é o motto. Se se tratasse de um artigo para uma revista, eu então francamente proporia outro Motto: - Elogio sem biografia.”; e noutra  

passagem: "Dados para a minha biografia - não lhos sei dar. Eu não tenho história, sou como a república do Vale de Andorra.”

Eça, certamente receava que o editor solicitasse dados biográficos a Gervásio Lobato, casado com sua prima, Maria das Dores Pereira d’Eça e Albuquerque.

Em Vila do Conde consta que Eça nasceu no solar de Pizarro Monteiro: No livro “A Sombra de Eça e de Camilo”, Manuela de Azevedo refere-se a esse segredo, nunca confirmado, que a família conhecia, mas não divulgava.

Para rematar os dados biográficos, é bom frisar que o pai do escritor, não esteve presente: no baptismo, no casamento, nem no funeral!

Qual a razão?! Já que há cartas afetuosas do pai. O que impediria os pais, casados legalmente, de reconhecerem o primogénito, romancista  famoso,embaixador em Paris, e ligado por laços matrimoniais à ilustríssima e nobre família dos Condes de Resende?!

          Será que um dia esse segredo será revelado? Já que o mau feitio da mãe, não é explicação para tal procedimento.


Porto/2008





HUMBERTO PINHO DA SILVA   -   Porto, Portugal



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