segunda-feira, 23 de julho de 2012

DITOS E OPINIÕES DE UMA CRIANÇA - O PRÍNCIPE DOM LUÍS FILIPE - Por HUMBERTO PINHO DA SILVA








Princípe Real Dom Luís Filipe   -   Desenho de A. Silva ( Charivari )






Julgo ser do conhecimento do leitor, já que o regicídio foi sobejamente divulgado, a forma como o bondoso Príncipe pareceu no Terreiro do Paço; mesmo assim, esmiuçarei o acontecimento, visto haver pormenores que fogem à maioria dos compêndios.

Reunidos na Quinta do Ché, nos Olivais, Manuel José dos Reis da Silva Buiça, Alfredo Costa, José Nunes e outros facínoras que permaneceram, covardemente, no anonimato, assentaram matar D. Carlos – Rei de elevada cultura e cientista de mérito.
Havia sido esboçado o plano por republicanos (sabe Deus se não havia monárquicos,) dias antes no Café Gelo.

Pela manhãzinha do dia primeiro de Fevereiro do ano de 1908, Alfredo Costa estava no segundo andar da casa de Meira e Sousa, que ficava na rua Nova de Almada, 84, em Lisboa, para falar com o “Senhor Alfredo”, que se encontrava escondido no 3º andar do mesmo prédio.

Comunicou Alfredo Costa, ao dono da casa, que estava previsto um atentado contra a figura do rei, nessa tarde.

Consta que este rebateu a ideia, tentando dissuadi-lo do repugnante crime.

Dois dias antes Manuel Buiça, compareceu perante o tabelião Mota, na rua do Crucifixo, para fazer testamento. Levava como testemunhas José Correia e Aquilino Ribeiro.

Eis em suma o regicídio e a trama que levou ao hediondo crime, onde o Príncipe Herdeiro Dom Luís Filipe foi vítima de duas certeiras balas que lhe vazaram o rosto.

No momento do assassinato o Príncipe levava o imprescindível terço. Mais tarde, a mãe, a Rainha Dona Amélia, ofereceu-o ao Cardeal Patriarca.

Dito isto, vamos analisar o carácter e sentimentos deste Príncipe, injustamente esquecido.




                                      
                                      Príncipe Real Dom Luiz Filipe (1891) - Obra de António Ramalho
                                                                                       Tesouros de Portugal




Por gentileza da Senhora Dona Maria Eugénia Rebelo de Andrade, neta de Dom João da Câmara, chegou-me – e já lá vão muitos anos, – fotocópias de texto que relata ditos e pareceres de Dom Luís Filipe, ainda criança, coligidos por D. Isabel Saldanha, preceptora do Príncipe.

Entre essas atitudes, todas edificantes e significativas dos elevados sentimentos, que conservou até à morte, ressalta a que ocorreu numa desabrida tempestade. Estavam todos preocupados, no Palácio, menos o Príncipe. Interrogado se não tinha medo, respondeu: “ Já rezei. Estou à conta de Deus. Estou descansado.”

Senhora, não familiar, genuflectiu-se para beijar-lhe a mão. Indignado repreendeu-a acerbamente: “Levante-se! Não sou Deus!”

Abro parêntese para lembrar que Frei Bartolomeu dos Mártires nunca tratava os reis por Majestade, mas sim de Sua Alteza. Para ele, Majestadeera só devido a Deus.

Ajoelhando-se para orar, disseram-lhe para não o fazer, porque não estava na igreja nem havia imagens. Retorquiu indignado: “ O Pai do Céu está em toda a parte. Está também aqui!”

Tinha sete anos e ajoelhou-se para rezar. Lembraram-lhe que não devia faze-lo, porque tinha escoriações nos joelhos. - “ Por me custar é que quero.” - respondeu seriamente.

Em Junho de 1897, interroga D. Isabel Saldanha da Gama, se Deus permitia oferecer a vida pela conversão de outro. D. Isabel compreendeu que se referia ao rei, mas recomendou que consultasse o director espiritual. Tinha dez anos.



                                                                




Na verdade o Príncipe viria a sacrificar-se ao defender o pai, no regicídio; e assim pareceu um homem de bem. Um homem que certamente reinaria com justiça e lealdade. Encaminhando a nação para o bem-estar do povo.

Com sua morte, juntamente com a de seu pai, Portugal mergulhou num dos períodos mais negros da sua História.




                                      [Regicídio_PetitJournal.jpg] 






HUMBERTO PINHO DA SILVA    -    Porto, Portugal



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